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  1. Sabor Infinito

    21/05/2009

    Por: Cris Costa

    Sofia corre pela escada, subindo vários degraus ao mesmo tempo. Ouve os passos que a seguem. Entre eles Beto seu ex-melhor amigo. Ainda naquela manhã ele trouxera um chiclete como fazia desde o dia em que começaram a trabalhar juntos. Era o último presente que acompanhava Sofia na fuga. Agora nem as feições lembrava o Beto de outrora, não mais. Todos emitem grunhidos e estão ensanguentados. Olhos sem vida, pele amarelada e deformada. São mortos vivos famintos, sem nenhuma consciência da antiga humanidade.

    Eles são ágeis. Outros cientistas estão vivos em outros setores, mas não há como chegar até eles. Sofia passa pela porta de aço do laboratório sete e a trava. Corre para o terraço e continua ouvindo os sons de seus perseguidores que tentam arrebentar a porta. Mastiga, mastiga, assopra...pow!!!. Ouve vidros quebrando. Sofia abre seu laptop e acessa os arquivos da pesquisa e os envia para seu supervisor na AZ. Tudo estava fora de controle e só havia uma saída para aquela situação – DESTRUIÇÃO TOTAL – antes que a infecção fugisse do centro de pesquisa. A imagem de uma cidade destruída vem a sua mente. “Credo!!! Não devia ter assistido Resident Evil, Madrugada dos Mortos e Extermínio tantas vezes..a culpa é da tv paga que reprisa tanto a programação para a infelicidade dos insones ”.

    Rapidamente entra no sistema de emergência e inicia o programa de autodestruição. CONFIRMA DESTRUIÇÃO – SIM / NÃO – “Droga! Siiiiiimmmm”. INSIRA SENHA - ********. Desde a época de graduação, em que aceitava participar de todos os tipos de pesquisa, nunca havia imaginado que um dia chegaria a esta situação. Explodir todo o prédio onde, durante cinco anos estava trabalhando na pesquisa do vírus “conceito”. Tinha trabalhado todo santo dia naquele projeto. Horas e zilhões de chicletes. “O chiclete não foi desperdício...foi a bolsa de estudos do filho do meu dentista”. Se tudo tivesse corrido como deveria, a pesquisa seria a nova e maior revolução. Toda a equipe já imaginava as entrevistas e capas de revistas. A cura de todas as doenças degenerativas. “Que horror! SERIA...Urgh!!! Como odeio o uso de verbos no passado”. Algo tinha dado errado. “Porque? Quanta estupidez...Quanto vale o show?”. CONFIRME SENHA - ********. Joga o chiclete fora. Allan era o culpado, não respeitou as normas de segurança, nem o Teorema de Pitágoras. “O Infeliz morreu tão rápido! Nem teve a chance de ver o inferno na terra”. Devia ter alterado a senha. Em situações de desespero, lembranças nunca são positivas. Sofia apreciava aquilo desde criança, mesmo o pediatra afirmando que o consumo demasiado causaria danos à dentição e desgaste ósseo. “Dane-se, Dr. Talento, nunca quis ser garota propaganda de creme dental...e iria usar aparelho de qualquer forma, mesmo!”. Menta, hortelã, morango, tutti-frutti, são tantos sabores, tantos prazeres. Doce, azedinho, refrescante e extremamente calmante. “Maldição! como queria outro chiclete agora...uma barra de chiclete sabor hortelã!!!..Mastigar, mastigar e fazer uma bola dupla...Ah!!! como queria”. ENTER. Inicia-se a contagem regressiva. 60...59...58...

    Uma luz forte atinge os olhos de Sofia, acompanhado de um som alto e forte vento. Algo é lançado. “Dra. Maia, entre no cesto”. Ela obedece. O helicóptero parte rapidamente.

    ...10...9...8...7...6...5...4...3...2...1...ZERO...BUM...BUMMM. Só sobra poeira. E lá se foi a unidade três da AZ pelos ares.

    A cidade mais próxima ficava a cento e cinqüenta quilômetros. Poucos ouviram a explosão. Ninguém nunca saberia a verdade. Um vazamento de gás. Não houve sobreviventes.

    O helicóptero pousa na sede da empresa. Dr. Orlando e seus volumosos cabelos grisalhos corre ao encontro de Sofia.

    - Sofia! Sofia! Que alívio vê-la com vida! Você está bem?
    - Não podia estar melhor... recebeu o arquivo completo?
    - Sim...completo. Não foi infectada? Não sei como conseguiu enviá-lo? Preciso da sua senha... – Orlando olha para Sofia - E Allan?
    - Não conseguiu...morreu logo na primeira explosão...não conseguiu isolar a área – olhou ao seu redor e voltou o olhar para Orlando - Eu sempre lhe disse que era um gênio... – disse Sofia com um sorriso nos lábios, olhar frio e malévolo - Eu afirmei na última reunião que o cálculo apresentado por ele estava errado. Vocês me ignoraram...E agora?
    - Fico feliz por você, Sofia – falou Orlando, expondo todos os dentes largos e muito brancos - Dra. Sofia Maia, seja bem vinda ao cargo de Diretora Geral do Núcleo de Pesquisas Genéticas da AZ...confesso que sempre apostei minhas fichas em Allan e em Roberto... você foi uma grata surpresa.
    - Não vai mostrar minha sala? Estou exausta e ainda há muito o que fazer...
    - Mas é claro minha pequena notável. Creio que um café irá cair muito bem...Qual a senha do arquivo, Sofia?
    - Calma! Tudo há seu tempo. Aliás... Passo o café, mas aceito um chiclete... Não tive tempo de salvar meu fusquinha.
    - Fusquinha?
    - Minha bomboniere em forma de fusquinha – respondeu Sofia indignada por Orlando não se lembrar do fusquinha sempre repleto de chicletes e balas – preciso de um novo...e não será nada mal se ele viesse explodindo de confeitos produzidos para serem mastigados até o final do sabor...
    - Ok! Vou fazer o possível. Você terá tudo que quiser. Reunião com a diretoria... amanhã às onze horas...eles estão surtando de alegria... querem assistir ao vídeo para entenderem o quanto foi rápido. Estão assustados e entusiasmados com os resultados... pelo visto já existe “alguém” interessado no projeto.

    Em sua nova sala, com uma bomboniere elegante em forma de taça abarrotada de chicletes (não tinham encontrado outro fusquinha), Sofia acessa os arquivos “conceito”. DESEJA ABRIR ESTE ARQUIVO – SIM / NÃO. “Droga! É claro que Siiiiiimmmm”. INSIRA SENHA - ********. CONFIRME SENHA - ********.

    Desembrulhou cuidadosamente o chiclete e levou-o até a boca. “Aaahh!Macio e saboroso...é assim que deve ser um chiclete.Pow!”




  2. 4 comentários:

    1. nao que tenha desgostado do texto. Ficou bacana na verdade. Só acheo q tangenciou demais o tema, que ficou meio só como acessório. Acho que se o chiclete tivesse uma participação mais forte, mas central, o exercício ficaria mais interessante, e o texto, por consequencia, tb.

    2. Anônimo disse...

      Apesar de concordar com o Rodrigo quanto ao chiclete (e foi um erro que cometi no desafio passado que o café ficou em segundo plano), confesso que fiquei presa na narrativa! Vc manda muito bem Cris!!!
      Bjokasss

    3. disse...

      Cris,

      Quanta criatividade!!Bacana a história.
      Concordo com a opinião do Rodrigo e da Lyani. A proposta da rodada é um texto que enfoque o tema chiclete.
      Em seu texto, ele não tem papel prepoderante para o desenrolar da história.
      Com ou sem o chiclete a qualidade do seu texto não se altera. O legal seria que o tema fosse melhor trabalhado.
      Gostei da sua produção.
      A narrativa é ágil e envolve o leitor que se interessa em descobrir o desenrolar da história.
      Abs, Rê

    4. Vivi disse...

      Essa história me soou bem familiar ao texto seu que li dias atrás, Cris que, infelizmente, você não pôde postar aqui. Seria a continuação?

      Bem, o elemento inventivo e a ação eletrizante estão ok. Mas, faltou o alcance do tema. Chiclete era nossa matéria-prima e apesar, de vê-lo mencionado na trama, era preciso torná-lo contextualizado. Pena porque a história é muito boa!

      Beijocas
      vivi