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  1. XV Desafio
    Tema:
    Mania
    Período para votação: 17 a 19 de Novembro

    Por Lyani

    Talvez pela imperceptível inclinação da mesa, a ponta de um dos lápis, dispostos extremamente alinhados, estava agora um pouco afastada. Exatos três milímetros. Ele não pôde deixar de notar e ajeitou-a de forma a ficar perfeitamente alinhada. Depois organizou os papéis na gaveta e as canetas no pote de acrílico por ordem de cores. No caminho para o banheiro, arrumou o quadro na parede e a mesa onde deixavam o café, que estava mais afastada da parede no lado esquerdo.

    Na volta, parou em diversas mesas para desenrolar os fios dos telefones que ficavam extremamente enroscados após algumas ligações. Entre uma arrumação e outra, conversou um pouco, sorriu, tomou um café amargo e ajeitou pela vigésima vez a gravata que lhe parecia torta a cada vez que se olhava no espelho.

    O telefone tocou três vezes antes que atendesse. Sempre três: nunca antes, nunca depois.

    “André, boa tarde!”

    “Oi!” O susto foi tão grande que esbarrou na xícara de café ao lado do teclado e dos lápis alinhados. O café tingiu a mesa marfim e molhou os lápis, derrubando-os todos da mesa. Poderia ser apenas um oi para qualquer um. Mas para ele era uma pontada dolorida, de angústia misturada com saudade, bem na altura do coração. Aquela voz bagunçou todos os sentimentos, o nó da gravata, a mesa, o ambiente todo. Bagunçou todas as cores e todas as imagens.

    Foram quinze segundos de silêncio até que encontrasse voz para responder.

    “Oi...” Foi tudo que conseguiu achar dentro de si, naquela bagunça que ela, desde sempre, havia causado e que ele tentava arrumar, dia a dia, como uma mania.

    “Eu queria te ver!” Foi o que ela disse. Ele queria fugir, desligar pra poder enxugar o café, arrumar os lápis na mesa, o nó na gravata, o quadro da parede, alinhar as cores da saudade com as cores do sobreviver ao dia a dia e continuar o fingimento.

    “Onde?” Ouviu a própria voz dizer ao telefone. Viu-se pela tela escura do monitor que havia entrado em modo de espera e percebeu o semblante surpreso, o tom branco do rosto, as pupilas dilatadas. Quis muito fumar, ou beber. Entorpecer os sentidos, esquecer.

    “Naquela praça.” A voz dela tinha o som nítido da dor, do choro, das cicatrizes, dos anos de silêncio e distância. “Às oito horas, hoje, pode ser?”

    Não, não pode. Não, você não tem esse direito de vir bagunçar tudo que tenho tentado arrumar por todos esses anos. Não, não...

    “Pode.” A voz dele tinha o som nítido da dor, do choro, das cicatrizes, dos anos de silêncio e distância.

    “Obrigada.” Silêncio. “Até lá!” E o som do telefone sendo desligado pareceu uma sentença. Ficou parado olhando para o aparelho por um minuto, uma hora, uma vida, até que se lembrasse da sujeira e voltasse à mania de arrumar. Limpou a mesa, ajeitou os lápis de forma perfeita. Arrumar para esquecer, arrumar para apagar, para não pensar, para amenizar a bagunça interior.

    As horas passaram em longos e infinitos segundos até que veio a hora de ir pra casa. Seguiu dirigindo pelo mesmo caminho de sempre. Contava os postes pelos quais passava, os sinais, os minutos. Ao chegar, contou os degraus, os andares no elevador, os passos até a porta. E nervoso, tomou um banho frio e rápido. As roupas no guarda-roupa, alinhadas e organizadas por cor. Vestiu-se.

    Respirou fundo, suspirou, engoliu seco, olhando-se no espelho. Quis desistir, ainda tinha tanto dela ali que não era preciso vê-la para lembrá-lo da presença. Algo dentro de si o fez andar até a porta, contando os passos. Algo o fez descer o elevador contando os andares. Algo o fez chegar até os degraus onde...

    “Oi.” Piscou várias vezes como se isso fosse fazer com que a imagem dela, ali, desaparecesse. O coração parou por um segundo e disparou muito rápido. O sangue pareceu sumir das extremidades de seu corpo concentrando-se no coração, em alerta. “Desculpe, eu não quis ficar lá sozinha...”

    “Tudo bem.” Desceu os degraus, contando um a um mentalmente, ficando de frente pra ela, numa distância razoável. Enfiou as mãos no bolso da calça jeans para que ela não notasse o caos interior que ela, desde sempre, causava. “Meu carro está logo ali”

    “Não podemos ir andando?” Ela sorriu – dentes perfeitos escondendo uma mentira perfeita – e olhou para o céu nublado no intuito de dizer, talvez, que fazia uma noite bonita, mas era também uma mentira. E ela ficou em silêncio, o sorriso morreu em seus lábios enquanto segurava com força a alça da bolsa.

    “Tudo bem” Disse por fim, começando a andar lentamente, sendo acompanhado em silêncio por ela. Demorou uma vida inteira, e vários quarteirões, até que decidisse quebrar o silêncio ele mesmo. “O que você quer Letícia?”.

    Ela parou. Ele também. Ela deu dois passos na direção dele, chegou perto o bastante para que ele sentisse aquele perfume familiar. Ergueu as mãos para tocar o rosto dele, a barba por fazer. Aquele toque bagunçou tudo de novo, tirou as mãos do bolso só para segurar os pulsos dela, no intuito de afastá-la. Mas o que fez foi baixar o rosto para alcançar os lábios dela. Contou os segundos até sentir o toque.

    O beijo poderia ter sido romântico, doce, mas não foi. Nem ele se adiantou para abraçá-la, nem ela fez qualquer gesto para se aproximar mais. Só as bocas estavam unidas, num beijo triste, doloroso, cheio de palavras que jamais foram ditas. Jamais seriam.

    Ela se afastou, a respiração acelerada. Ele também, nervoso, passando a mão pela testa. O silêncio da noite caindo entre ambos como um abismo intransponível.

    “Eu só queria te ver” Ela disse, com aquela voz cheia de sentimentos contraditórios.

    “Mas você não tinha o direito”

    “Então por que aceitou?”

    Ele desviou o olhar, tinha demais dela guardado em si para ser capaz de assumir o que era mais do que notável. Quando voltou a olhá-la, ela estava sorrindo olhando para o chão, tímida e sem graça. Linda, como sempre fora e como sempre seria. Aquele sorriso que rasgava seu coração e bagunçava tudo de novo. E então se pôs a andar, se afastando dele. Ele sorriu também, olhando as costas dela se distanciando. Aquela bagunça, afinal, era bem vinda. Teria o dobro de trabalho pra organizar tudo de novo, deixar tudo impecável, perfeito, suportável.

    Alimentar essa mania o ajudava a sobreviver.

  2. por Medéia

    Nove e meia da noite.

    O quarto escuro era iluminado apenas pela luz do poste que entrava fracamente através da cortina azul marinho na janela. Miguel, deitado na cama de olhos fechados, visualizava cada canto de seu familiar recinto. As coleções de latas de cerveja, os álbuns de figurinhas do campeonato brasileiro de 10 anos consecutivos (todos completos), os copos, os selos, CDs e DVDs e todas as outras grandes e pequenas coleções que acumulara em sua vida. Até mesmo pedras. Suas prateleiras eram metodicamente organizadas para expor suas coletâneas de modo a valorizá-las ainda mais, mas principalmente de modo a servir a mais uma de suas manias: a organização.

    Nove e cinqüenta.

    O relógio de pulso de Miguel despertou lembrando-o de algum compromisso. Sem abrir os olhos, um sorriso desenhou-se em sua boca em quanto suas mãos se moviam para desligar o alarme. Estava excitado com a idéia de começar uma nova coleção. E esta seria a mais importante de sua vida. Levantou-se devagar e só então abriu os olhos. O escuro o manteve cego por alguns segundos, mas ele logo se acostumou com a penumbra. Abriu a porta do armário e vestiu-se. Como sempre, primeiro tirou toda a roupa, dobrou-a cuidadosamente e a colocou no cesto ao lado do armário para lavar. Calçou as meias primeiro, seguidas pela cueca e então a calça. Primeiro a parte de baixo do corpo. Calçados. Só então a parte de cima. Camisa e casaco. Penteou o cabelo, ainda no escuro. O perfume importado no colarinho. Guardou a carteira e a chave do carro no bolso interno do casaco e sorriu mais uma vez para si mesmo. Tudo daria certo.

    Dez e quinze.

    Um bipe do alarme e Miguel já estava no carro rumando ao seu destino. Precisava uma música para combinar com sua euforia. Não se sentia assim há anos. Talvez nunca tivesse se sentido desta forma. Um misto de excitação, adrenalina e medo do desconhecido. Ligou o player com o CD previamente gravado. Não gostava de ouvir músicas ao acaso no rádio, por isso gravava seus CDs conforme seu estado de espírito. Tinha no mínimo um para cada momento. E neste momento encontrava-se estimulado demais. Os acordes de uma música eletrônica, vibrante e dançante encheram o carro.

    Dez e quarenta.

    Em frente à boate movimentada, Miguel parou seu carro, ligando o alarme e verificando se tudo estava em ordem. Respirou fundo para diminuir a adrenalina no seu corpo e não parecer eufórico demais. As pessoas poderiam achar que ele estava drogado. Mas a única droga circulando em suas veias era seu próprio sangue que parecia antecipar o momento e corria com força em suas veias fazendo com que seu coração batesse apressado. Conseguiu diminuir o ritmo cardíaco e se dirigiu a entrada vip. Era bom ter dinheiro em coleção também, afinal este tipo de coleção não era questionado pela sociedade. Quanto mais você tinha, mais interessante você parecia.

    Dez e cinqüenta

    Uma nuvem de gelo seco veio ao seu encontro quando entrou na pista. Um empregado da boate lhe guiava até o camarote comprado. Algumas garotas já lhe seguiam com os olhos. A roupa de marca e a direção que seguia (os camarotes especiais) indicavam uma pessoa com dinheiro e talvez poder. Muitas cabeças de todas as cores viraram para lhe olhar, mas Miguel sabia exatamente o que queria para começar sua coleção. Pediu um scotch com gelo ao garçom que parecia lhe esperar no camarote. A pista ainda estava vazia, mas ele preferia assim, pois era mais fácil de vê-las chegando. Uma a uma desfilando em frente a ele. Saias curtas, decotes generosos, blusas brilhantes, maquiagem carregada e jóias (ou seriam bijuterias) brilhando nos braços e pescoços. A carta de mulheres do local era melhor que a de vinhos. Mas ele ainda não encontrara “A” garota especial. Ele sabia que encontraria. Sua excitação crescente lhe dava esta confiança. Foi então que ele a viu.

    Onze e trinta.

    Em seu canto, Luísa via os corpos dançando em movimentos ondulatórios. Jovens e não tão jovens vestiam-se sensualmente para atrair a atenção uns dos outros. Movimentam-se freneticamente como se estivessem fazendo uma dança de acasalamento. O que ela fazia ali? Vestira-se com apuro, maquiara-se com esmero, mas seu espírito não estava nesta festa. Não dançava e nem sorria. Apenas olhava a diversão alheia. Não via seus olhos, percebia somente o movimento da dança. E de novo aquela sensação de estar sendo vigiada. Medo. Seus olhos então refletiram o medo que aumentava em seu interior. E se ele a havia seguido? Olhou ao seu redor e não o viu, mas a sensação continuava ali. Foi então que viu Miguel. Ele a encarava com um sorriso nos olhos. Parecia engoli-la com o olhar. Não dançava e estava desacompanhado. Bebia um copo de uísque e a olhava como se a conhecesse. Ao vê-la encarando-o, fez um gesto leve com a cabeça em sua direção. Talvez fosse isso o que precisava. Distração.

    Onze e trinta.

    A garota era diferente. Parecia perdida no meio de todos dançando. Olhava ao redor procurando algo ou alguém. Seus olhos refletiam medo. Vestia-se bem com um vestido vermelho decotado e curto, mas não era vulgar como tantas outras ali. E Miguel não conseguia tirar os olhos dela. Mais uma vez a garota parecia procurar alguém com temor. Então seus olhos se encontraram. Ela o tinha visto e sabia que ele estava olhando agora. Fez um ligeiro sinal com a cabeça. Sentiu-se ainda mais confiante, pois ela abriu um sorriso tímido e o olhar de receio sumiu. Resolveu então se aproximar. Engraçado, agora que as coisas começavam a funcionar seu coração desacelerou, a excitação diminuiu e ele se sentia em paz.

    Duas e dez da manhã.

    Sua casa era mesmo perfeita. Próxima do centro mas sem vizinhos. Não morava com ninguém e na garagem, o quartinho especial que preparara para suas coleções estava em silêncio agora. Ninguém diria que há menos de duas horas a bela Luísa estava ali gritando a plenos pulmões. Ele sentira mais prazer do que nunca. Escolhera a garota certa. Sozinha no mundo, sem família, fugindo de um namorado violento. Ela nunca mais precisaria se preocupar com ele. Um Martini na mão e uma expressão pensativa. Agora a adrenalina estava diminuindo e Miguel estava voltando ao seu estado normal. Deus! Esta nova coleção era a melhor de todas. O que ele mais queria era poder continuar. Mas primeiro precisava guardar metodicamente os seus “objetos” em uma prateleira especial que já estava preparada. O sangue estava limpo e ele até já havia tomado um banho e trocado de roupa em seu ritual sistemático. Pegou o vestido vermelho da garota para guardar no armário. Ainda bem que era vermelho porque o sangue espirrara um pouco. Mas nem se notava.

    Duas e vinte e cinco.

    Com todas as luzes apagadas, mais uma de suas manias, foi andando para o seu quarto. Já estava preparando um novo plano para sua próxima garota de coleção. Abriu a porta do quarto. Tirou toda a sua roupa e dobrou-a meticulosamente como sempre. Colocou sobre o baú pois a vestiria pela manhã. Ao sentar-se na cama, com seus pensamentos longe, sentiu as molas do colchão cederem com seu peso. Afofou o travesseiro e meteu-se sob o edredom. Quente. Aconchegante. Antes de dormir, sentiu o braço da garota abraçá-lo pela cintura. Pensou que devia arranjar um lugar que não fosse sua casa assim não corria o risco de apegar-se a sua coleção de sexo e que devia dar uns pontos na mão cortada pelo copo quebrado. Seus olhos nublados de sono ainda olharam para a prateleira onde sabia que a calcinha vermelha estava guardada.

  3. Acordou atordoada. Olhou o relógio. Que horas são? 09 horas e 17 minutos!! Corria contra o tempo. Corra Lola, corra! Atrasada, tomou uma ducha, rápida. Ainda com sabão no corpo, se dirigiu ao quarto, se enxugou rapidamente e pegou a primeira roupa que encontrou no cabide. Não teria tempo para fazer combinações como prescrevem os ditames da moda. Olhou-se no espelho: jeans, camiseta básica e tênis. Aparência aceitável. Tinha de estar no consultório médico às 10h00min.

    Com as chaves do carro e do apartamento em mãos, seguiu destino à consulta que havia agendado há meses. Não poderia perdê-la. Abriu a porta do carro, sentou e deu a partida. Pausa para reflexão. “Será que desliguei o gás da cozinha?” “Não tenho certeza, só me lembro de ter pegado as chaves”. Ouve-se o som do virar das chaves.

    Sobe correndo as escadas, pois o elevador como sempre nessas horas que mais se precisa está com defeito. Ao entrar em casa, verifica que o registro está fechado. Sente-se aliviada. Mas, não tem muito tempo para pensar... Sua consulta!!!

    Desce novamente os dois lances de escadas, liga o carro. Já começa a fazer a manobra quando a dúvida novamente lhe acomete: será que ao entrar em casa, deixei a luz da cozinha acesa?”. “Não é possível, como ter certeza? Desliga o carro, olha rapidamente para o relógio, faltam 20 minutos para o seu compromisso. Mas, como deixar que essa dúvida a atormente durante o resto do dia?

    Resignada, sobe os dois lances de escada, abre a porta correndo e segue em direção à cozinha. Morta de raiva de si mesma. Constata que está tudo em conformidade. Luz apagada. E o gás? Dá uma olhada novamente, por garantia. Tudo ok. Desce os dois lances, a respiração já ofegante.

    Dá a partida no carro, mas, logo lhe sobrevém a dúvida cruel: tem a sensação de não ter verificado se deixara a porta de casa fechada. “Será que ao sair, deixei a porta aberta?”. Por um instante, pensa em chorar, mas, se controla. Respira fundo. Sobe os dois lances de escadas. Verifica o trinco da porta: F E C H A D A. Verifica novamente. Custa averiguar o gás e a luz? Custa.

    Pára por um instante diante da porta trancada. Começa a descer os dois lances de escada rumo ao seu compromisso! Novamente pára e olha a porta. Trancada?? Verifica as horas: são 10h00min cravados em seu relógio. Sobe. Abre novamente a porta. Tudo ok.

    Senta no sofá. Liga a televisão. Olha para o nada. Lá se foi outra consulta com o psicólogo.

    Desliga a televisão. Confere novamente a porta. Verifica o registro do gás. Luz apagada. Dirige-se ao quarto com a esperança de conseguir dormir.

    Antes, porém, liga para o consultório na tentativa de remarcar a consulta. A secretária atende. “Como explicar que perdera a consulta por não conseguir ficar sem pensar se desligou o gás ou não antes de sair de casa?” Melhor não explicar nada, mesmo envergonhada por ser a sétima vez que a consulta fora desmarcada. A secretária informa que há vaga apenas para o próximo mês. “Fazer o quê? Pode marcar na primeira data, primeiro horário.” Consulta marcada, sente-se mais confortável.

    Deita novamente em sua cama. Fecha os olhos na tentativa de descansar um pouco. Em um sobressalto, os seus olhos se abrem. Pula da cama, se dirige em direção à cozinha. Gás desligado. Luz apagada. Porta trancada. Não necessariamente nessa ordem.


    Por Rê Lima

  4. Por: Cris Costa


    Sentada, sozinha, no salão quatro do velório municipal, Ainam observava o pobre corpo estendido em um caixão barato. As poucas pessoas que ali estavam falavam mais de si mesmas do que da pessoa que repousava no caixão. Não havia homenagens, nem mesmo uma simples coroa de flores. Ninguém comentava, mas ela se lembrava muito bem.

    Aos 7 anos...
    Ainam, queria passar fita adesiva na boca de Paulinho. Diariamente, este se colocava a chorar quando era deixado no colégio. Mais ridículo era quando ele se agarrava à mãe para que não fosse deixado no colégio e era sempre arrastado pela professora. Ainam o achava patético e por isso não o suportava. Paulinho era fraco demais.

    Aos 15 anos...
    Contorcendo as mãos, Ainam observava os últimos acontecimentos do colégio. Detestava tudo a sua volta, o bege das paredes, a grande quantidade de janelas, o mármore da escada e os bancos de madeira. Ao seu ver as escolas eram todas iguais, a única diferença era o nome e endereço.
    A escola estava em fervorosa, o diretor arrancava os poucos cabelos que lhe sobravam. Sara, a melhor jogadora de handebol da escola, acabara de quebrar o nariz de uma garota do time adversário. Ainam odiava Sara pois esta tinha a mania obsessiva de vencer.

    Aos 22 anos...
    Júpiter estava no refeitório da universidade, contando de mesa em mesa, que Rico tinha saído com Rebeca no final de semana e, que finalmente ela tinha perdido a virgindade. Júpiter era a fofoqueira de plantão, não acontecia nada que ela não soubesse. Ainam não a suportava, era ridículo demais passar tanto tempo espalhando notícias da vida de outras pessoas.

    Aos 28 anos...
    Observava Rebeca entrar na igreja. Seu vestido de noiva era bufante, com muito brilho e um véu que parecia não ter fim. Ainam pensava o quanto Rico amava a sonsa da Rebeca, pois caso contrário sairia correndo pela porta lateral e desapareceria da face da Terra. Ainam detestava casamentos, muito mais ainda ser madrinha na companhia de um desconhecido (primo do primo do melhor amigo do irmão da noiva), um par arranjado de forma que não pudesse negar o convite. Todo aquele cerimonial era um total desperdício de tempo e dinheiro.

    Aos 36...
    Dirigia para casa e chorava ao som de Avril Lavigne no máximo do volume. Não acredita ainda que o idiota de seu chefe tinha promovido o tosco Ermínio a gerente. Ela dedicara sete longos anos na empresa e quando acreditava ter chegado sua hora, nada!! Ela não suportava aquele emprego, odiava seu chefe, odiava ainda mais Ermínio por ter aceito a promoção.

    Aos 44 anos...
    Pagou sua parte na “vaquinha” dos colegas de trabalho para a aquisição de um presente para o bebê de uma outra funcionária. Detestava participar destas homenagens. Era patético um monte de gente se juntar para comprar um único presente. Desprezava estas comemorações, ao seu ver totalmente sem sentido.

    Aos 65...
    Olhava atentamente outras mulheres do grupo. Abominava a idéia de envelhecer e ficar como as outras. De manhã caminhar como um bando de formigas, como se fosse possível recuperar a forma e ficar “gostosa” novamente. Á tarde tricotar, bordar ou pintar para arrecadar fundos para as crianças abandonadas. Em outras tarde ir àqueles bailinhos. Odiava seguir tendências, aquela mentalidade de unidade. “Vamos aproveitar a Vida”. Ainam era realista, tinha repulsa ao espírito de juventude, sabia que era momento de estudar mais sobre a osteoporose, visto que odiava leite e aproveitou a juventude para beber todo café possível.

    70 anos...
    Assistia aos programas das tardes. Diziam ser programas de entretenimento, mas na verdade eram cheios de fofocas e nada mais. Desprezava os programas de televisão. Era muito merchandising e pouca notícia relevante. Total perda de tempo...

    Voltando no tempo, percebeu que passara sua Vida criticando tudo a sua volta. Rebeca sempre lhe dissera que essa sua mania era insuportável. Notou que o tempo passara depressa e que não conseguiu deixar nenhum legado. Mas também iria deixar para quem, as pessoas sempre se afastavam dela. Desprezava a maioria das pessoas que lá estavam, na maioria grandes perdedores.

    Neste momento Ainam levantou-se e saiu rumo ao desconhecido. Odiava velórios, e, odiou muito mais aquele por ser o seu.

  5. Obsessão

    14/11/2008

    Por: Giovanni Nobile


    Esta minha mania,
    Esta minha loucura

    É a rotina deste vício de desejar o que não posso
    De querer o que é o errado
    De uma noite de andarilho
    Pelos rumos errantes
    Por maneiras variadas
    Numa passada desvairada
    De buscar além do que meus braços alcançam
    Esta minha loucura me cansa.

    Cansam-me.

    Minhas manias me cansam
    Quero e desquero de um minuto a outro
    De uma a outra
    Na mesma batida
    Na constante toada
    Num hábito prejudicial de outra vez acreditar que posso tudo
    Que tudo quero
    Que tudo posso
    Que tudo passa
    E que, depois, logo jogo tudo fora
    (quase tudo)
    Sem olhar pra trás...
    À frente reside nova idéia fixa doentia

    Esta minha mania
    Esta minha loucura

    Estas minhas maneiras de entender o mundo
    De querer meu mundo
    De mudar os planos
    De alterar os rumos
    Continuadamente vagante
    Este alvo doce de meus gostos
    Dos meus infinitos desejos
    Dos incontáveis propósitos
    E dos rumos errantes

    Esta minha mania
    Esta minha loucura

    Estes meus quereres erradios
    Erradiam vontades
    Impulsos
    E no pulso
    De cada batida
    Anseiam pela novidade
    Abandonam pelas sarjetas as velhas conquistas
    E já buscam novos trunfos
    Futuros abandonos

    Nesta loucura
    Nesta mania

    Nesta maneira de querer tudo aquilo que não tenho
    Incansável obsessão

  6. 15º desafio

    02/11/2008

    À procura de um tema promissor, me deparei com um argumento que insistia em vir à tona malgrado minhas tentativas de descartá-lo.

    Então, na pressão, o tema da rodada é: Mania(s)

    A postagem pode ser feita a partir do dia 02/11 ao 16/11.

    A votação ocorrerá nos dias 17,18 e 19 de novembro.

    Boa sorte, caríssimos!!!!