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  1. 00:45pm. O celular registra a hora da ligação.

    Chamada não identificada.

    Uma voz que não reconheço, pergunta:

    ─ Quem tá falando?

    ─ Quer falar com quem?

    ─ Com você mesmo.

    ─Com você, quem?

    ─Com você, ora. Para que nomes?

    ─ Eu tenho mais o que fazer – digo irritada.

    ─ Eu também tenho. Mas hoje não sei por que tive vontade de conversar com você.

    ─Veja bem: eu não te conheço, não sei quem você é. Como você achou o meu número?

    ─ Liguei a esmo. Isso realmente importa?

    ─ Importa sim, porque mamãe me orientou que não devo conversar com estranhos.

    ─ Me agrada esse humor sutil e irônico. Gosto de pessoas objetivas e diretas como você. Admiro quem tem atitude e diz o que pensa na cara dura.

    ─ Pois é, por isso, vê se não me amola. Tenho mais o que fazer e vou desligar, ok? Foi um desprazer te conhecer...

    ─ Espera!! Não desligue, por favor.

    ─ Hã? Você sabe que horas são?

    ─A hora certa para se conversar com alguém. Preciso conversar com alguém.

    ─ Olha só...procura na lista o Disk-oração. Eu não estou nem um pouco interessada em ouvir o que você tem a me dizer.

    ─ Já parou para pensar que talvez eu tenha algo a te dizer?

    ─ Como assim?

    ─ Quis o destino que eu te encontrasse. Isso não é acaso.

    ─ Ah, não? Então o que é? Detesto frases de efeito, principalmente em uma hora dessas.

    ─ Eu te liguei porque algo me dizia que você precisava de mim.

    ─ (Risos) É mesmo?

    ─ Sim. É sério. Quer saber o que tenho para te dizer?

    ─ Diga. 01 minuto e depois desligo.

    ─ Penso que você não estaria preparada para ouvir o que tenho para te dizer.

    ─ Por que não? – replico intrigada

    ─ Ligo amanhã.

    ─ Espera aí, por favor! Preciso saber o que tem para me dizer!

    ─ Hoje não.

    ─ Mas se você mesmo disse que foi o destino que fez com que ligasse para mim?! Como você vai me encontrar novamente?

    ─ Não interessa o como. Agora vou desligar. A nossa conversa foi boa e bastante reveladora.

    ─ Reveladora? Como assim? Não entendi nada. Eu exijo uma resposta...

    ─ Beijo me liga!

    ─Como assim?

    Tu...tu...tu.. Cai a ligação. Olho para o celular sem entender.

    Nessa noite quase não durmo.

    Até hoje espero a ligação de um alguém em algum lugar para me revelar o que eu não sei.


    Por Rê Lima

    Beijo me liga. Tu...tu...tu

  2. 6 comentários:

    1. Vivi disse...

      Massa!!! Bacana demais. Uma crônica leve bem representado os diálogos da modernidade.

      Beijos

    2. Cris disse...

      Rê,
      Adorei o texto...divertido e intrigante.
      Tentei me imaginar no lugar da pessoa que recebeu a chamada e conclui que ela é uma "santa", pois atender a ligação naquele horário e ainda se concentrar no diálogo... Se fosse comigo tu...tu...tu...

      Parabéns!!

      Bjs me liga, mas não depois da meia noite ;-)

    3. Lyani disse...

      Gostei muito Rê!
      Estilo diferente e que prendeu a atenção!
      Adorei o diálogo... e eu teria ficado em polvorosa pra saber o que eu não sei rsrsrsrs
      bjos

    4. Extremamente possível de acontecer. Gostei.
      Leve, engraçado e bem colocado!
      Beijos

    5. gostei da reviravolta. no começo os diálogos não tinham me conquistado, mas o turning point deu todo um charme. e o final, sem a ligação retornar, fechou mto bem o texto.

    6. adorei!!!

      tem um quê de Luiz Fernando Verissimo nessas linhas... muito bom memso!!!