Queria aproveitar o meu último
dia de férias e decidi ir sozinha ao cinema. Talvez por ser um dia de semana
ou por ser um filme pouco conhecido, a fila para entrar na sala não tinha mais
do que umas quinze pessoas, a maioria senhores de idade. Ainda faltava meia
hora para o filme começar, mas como os outros já estavam se aglomerando na
porta da sala, entrei na fila por inércia. E, também por inércia, falei
“saúde” ao homem que estava na minha frente quando ele espirrou.
- Obrigado – agradeceu o homem com um sorriso.
Durante aqueles segundos em que
ele se virou para agradecer, percebi o quanto era charmoso. Olhos e cabelos escuros, pele cor
de canela e um sorriso largo, com dentes muito brancos e perfeitamente alinhados.
Foi rápido
e logo ele voltou à sua posição na fila, dando-me as costas.
Continuei analisando aquele homem
discretamente. Alto, costas largas, mãos grandes e... naquele instante, percebi
que algo brilhou em um de seus dedos, na mão esquerda. Seria uma aliança?
Minha análise, tão rápida e involuntária, terminou de forma abrupta, como se
houvessem me jogado um balde de água fria.
Alguns minutos depois, ele
espirrou de novo. Eu, novamente por hábito, falei “saúde”. Desta vez ele se
virou um pouco mais e me corrigiu:
- Dinheiro.
- Como? – perguntei, intrigada.
Ele sorriu e explicou:
- Dinheiro. É o que se fala em
Porto Rico na segunda vez em que uma pessoa espirra.
Ri daquela conversa ligeiramente
surreal:
- Bom, então... “dinheiro” para
você.
- Obrigado.
Antes
que ele se virasse, perguntei:
- Você é de Porto Rico? Mas não
tem sotaque...
- Vim para cá quando era criança.
A minha mãe ainda mantém alguns costumes de lá.
Incentivado pela minha curiosidade, ele continuou a falar sobre as peculiaridades de sua família. Era um homem agradável e de
conversa fácil, do tipo com quem você fala como se já conhecesse há anos.
Discretamente eu tentava olhar de novo para a mão esquerda dele, mas como ele estava parcialmente virado para a direita, não consegui enxergar.
Em determinado momento, ele ficou
em silêncio. Achei que o assunto havia morrido e não nos falaríamos mais, até
que ele se virou para o outro lado, remexeu o bolso da calça com a mão esquerda por um tempo, tirou
um lenço e espirrou. Pela terceira vez.
- Saúde! - falei. - Ou é
dinheiro?
Desta vez ele se virou um pouco mais
na minha direção. Com o canto do olho, reparei que não havia anel nenhum na mão
esquerda, ao mesmo tempo em que ele falou:
P**a m***a!!!! Débs, débs, como vc consegue praticamente sempre me deixar pasmo, besta, sem fôlego com seus textos?
Este é um dos mais incríveis que já li seus. Do nível daquele primeiro que ouvi na oficina, da traição (e perceber que eu estava diante de uma gênia da literatura). Esse jeito que você tem de conduzir a narrativa é muito aconchegante, muito natural.
E quando chega o final, dá aquela sensação de que "eu devia ter adivinhado que ia acontecer isto", mas não, eu não consegui adivinhar! Foi mais rápido que meu raciocínio. Vc colocou as pistas sutilmente, na medida certa. Perfeito.
Ou seja, o final foi ao mesmo tempo natural e surpreendente. E lindo.
Muito divertido o estranhamento de situações que você cria. Vc é mestra em fazer esse tipo de coisa! Como o lance de o cara dizer "dinheiro", e a moça ficar intrigada... rs.
E que demais vc conseguir pegar um tema aparentemente tão banal e nada a ver com nada... E criar com ele uma história imemorial. Um épico do cotidiano. Uau.
Eu achei que ficou estranho, pq é muito diferente do q costumo escrever. =D
Até tentei deixar uma ambiguidade no final, mas acho que ficou sutil demais. Deu pra notar?
ahn... não entendi pq seria mto diferente do q costuma escrever, como eu disse, o espírito bonito e sagaz está aqui como em outros txts seus! diferente em q sentido?
agora, não sei se captei a tal ambiguidade no fim, hehe. seria q ou o cara tá cantando ela ou o lance de dizer amor na terceira é de verdade? hehe
Putz, acho que não mereço esses elogios todos pq senti que não encontrei a "verdade" deste texto, sabe? Valeu pela experimentação e pra perder o medo de postar(eu demorei para postar por causa disso... eheh)
hm... não... é mais em relação ao fato de ele ser casado ou não.
Pelo q um colega falou, da terceira vez é amor mesmo. =)
eita, minha msg sumiu! eu tinha dito que bom que ao menos isto ajuda a te deixar com mais coragem com seus textos"!
tb, q eu não ia mentir nos comentários, né? hehe
qto à verdade do txt, eu só senti um calafrio na espinha mágico, e foi bem o suficiente! pra ser mais racional, talvez que seguir certos costumes bobos possa ajudar a conhecer pessoas interessantes? hehe
bj!
Prazer em conhecer a sua escrita, Débs. Texto agradável de se ler. Concordo com o Maurício, ele tem uma fluidez natural. A sensação é a de ouvi-la contando a história à viva voz. Aliás, o que um espirro pode causar, hein? Bem formulado o aproveitamento de curiosidades culturais relacionadas ao espirro. Ma, a cereja do bolo é justamente um certo efeito capitu. Na minha opinião, o cara é um Don Juan oportunista. Comprometidíssimo. hehehe Amei! Bjs!
Gostei bastante.
Um texto naturalmente bom de ler e com um toque de romantismo (mas concordo com a Vivi, o cara tem um quê de oportunista).
Eu gosto desta pesquisa que se transforma em texto, faço isto com frequência.
Parabéns, Débs, e seja muito bem-vinda a IL!
Ah, que bom q vcs "pescaram" isso, meninas! Eu tb acho q o cara é um conquistador barato! XD hahahah!
Obrigada por me convidarem ao IL, estou ansiosa pra conseguir arranjar um tempinho e escrever o deste mês =)