“O meu saci é um moleque brincalhão, sim! Mas, não é aquele ser maligno como reza a lenda contada pelos meus avós. Ele também não é pretinho. O meu Pererê é azul e com a sua carapuça mágica pode aparecer do meu lado e brincar comigo todas as noites. Hoje mesmo, brincamos de pique-esconde. Ele me emprestou sua carapuça e eu me tornei invisível. Mas aí, mamãe entrou no quarto e ele sumiu.
Dia desses, a professora pediu que desenhássemos o Chibamba. Desenhei-o com vestes de flores. Sabe o que ela me disse? Que o Chibamba é um bicho feio, uma espécie de fantasma criado para assustar crianças em seus pesadelos noturnos, principalmente as malcriadas, teimosas e choronas. Anda coberto com longa esteira de folhas de bananeira, ronca como um porco e dança compassadamente enquanto caminha; às vezes gira. Cruzes!!!
Então se eu chorar ou fizer alguma arte ou teimar com a mamãe, Chibamba vem me pegar? Vem! E veio. E sabe o que eu disse para ele quando apareceu no meu quarto? Que coisa feia, Chibamba! Assustar menininhas como eu? Isso não se faz. Ele chorou e me disse que não era ruim. Que gostava de brincar, mas as crianças corriam de medo dele. Brincamos a noite toda de contar estrelas.
Conhece a Cuca? Não, não é aquela do sítio. Lobato que me desculpe, mas minha Cuca é linda! Quando entrou em meu quarto e disse quem era quase não acreditei. Pois nada tinha a ver com aquele ser monstruoso: velha, feia, enrugada, cabelos assanhados, corcunda. Parecia uma índia com longos cabelos pretos como aquele líquido que jorra da terra, não lembro o nome agora, mas mamãe deve saber. Ela sabe.
Nossa! Já são dez horas da noite!? Como está tarde! Se eu não dormir o bicho-papão vem me pegar. Eu particularmente não acredito nisso. Mas deixo “eles” pensarem que acredito. Tudo para não deixá-los tristes. Preparo a minha melhor cara de menininha assustada-apavorada-com-medo-de bicho-papão. Porque os adultos têm a mania de achar que não criamos nossas próprias estórias? Porque não nos deixam imaginar, inventar, sonhar?Vou contar-lhes um segredo: Reza a lenda que gente grande não sabe ser criança.....
Mas essa estória eu conto depois. Agora vou dormir. Durmam com as Iaras, Sacis, e Cucas.....Boa Noite!"
Rê Lima
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Adorei a narrativa com base no enfoque infantil. A narradora reinventando as fábulas e lendas e criando seus próprios conceitos foi um dos aspectos de que mais gostei.
Histórias contadas por crianças...
Boa idéia!
Ficou simples e divino.
Só senti falta do boi da cara preta (eu tinha medo dele os outros erma "meus amigos").
Beijos
O uso do ponto de vista infantil tornou a narrativa deliciosa e enfim o texto ficou ótimo.
Rê, Parabéns.
Oi Rê,
Gostei bastante da menininha que sabe das coisas...rs
Muito legal mesmo!!!
beijooo