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  1. Por: Cris Costa


    Quando era pequena tinha um amigo, que todos diziam que era imaginário. Estava comigo em todas as aventuras e lhes asseguro que Ele me salvou de muitas enrascadas. Muitas mesmo!!
    Às vezes Ele passava horas conversando, muitas vezes mais me ouvia do que falava, mas sempre estava ao meu lado. Quando mamãe me dava uma bronca, Ele sempre dizia que devia respeitá-la e ouvir seus ensinamentos pois com certeza ela só queria o meu bem. Engraçado, hoje admito que Ele tinha razão.
    Conforme fui crescendo, deixei de ouvi-lo pois suas opiniões normalmente iam contra meus interesses. A cada dia procurava menos por Ele, tanto que um dia Ele simplesmente desapareceu. Foi fácil esquecê-Lo, tinha muitas coisa mais importantes para pensar. Nas poucas oportunidades em que O encontrei novamente, acabei por considerá-Lo muito “careta”, era muito mais fácil e conveniente me afastar Dele. Sentia que Ele estava por perto, mas fingia que não sabia pois me envergonhava admitir que Ele era tão importante em minha vida. Quando as coisas não iam bem, sempre me perguntava por Ele, “Quem Ele julga ser para me abandonar neste momento tão difícil!”.
    Meus dias eram tão atarefados, tinha meu trabalho, a faculdade, meu namorado, meus amigos, não tinha mais tempo para procura-Lo. Mesmo à noite, normalmente mal conseguia chegar até minha cama, pois estava morta de cansaço. No dia do meu baile de formatura Ele estava lá. Não me disse uma palavra, apenas fez um leve aceno com a cabeça e sorriu. Ao invés de agradecer sua presença, pensei: “Mas é mesmo um “bicão”. Quem será que O convidou?”. Mas depois de algumas/muitas taças de vinho, Ele desapareceu da festa. E também novamente da minha vida.
    Alguns anos depois me casei e engravidei. Descobri que tinha um problema gravíssimo. Poderia perder meu bebê e minha própria vida se levasse a gestação adiante. O médico deixou claro que minhas chances eram remotas. Fiquei tão desesperada, chorava sem parar e a primeira frase que passou em minha mente foi, “Por favor Deus, me ajude!”. Nestes dias de aflição, Ele voltou a fazer parte da minha vida. Não lembrava de tê-LO chamado, mas Sua volta foi providencial. Suas palavras eram doces e confortantes. Trouxe-me paz em um momento tão difícil. Eu e meu bebê sobrevivemos.
    Um dia observei que meu filho estava sempre conversando e rindo. Imediatamente pensei: “Ele também tem um Amigo Imaginário”. Quando perguntei sobre o amigo imaginário, ele disse que tinha “O MELHOR AMIGO DO MUNDO” que Ele não era imaginário, Ele realmente existia e podia fazer coisas incríveis. Frente a minha incredulidade, meu filho disse: “Mamãe, Ele disse que também sempre foi seu Amigo e que esteve sempre com você. Você se afastou, mas Ele nunca te abandonou, nem um segundo sequer”. Diante da resposta só pude sorrir.
    Numa tarde de primavera, estávamos indo fazer um piquenique no parque quando meu filho apontou para uma Igreja e falou: “Mamãe, olhe ali é a casa do meu Melhor Amigo. Está sempre de portas abertas. Ah!!!! Sabia que todos nós somos filhos Dele também!”. Como nunca fui adepta de nenhuma religião, perguntei se ele estava tendo estudo religioso na escola. Meu pequeno filho afirmou que não tinha aprendido aquilo na escola, mas que tinha sido o Amigo que tinha dito aquilo.
    Sentei com meu filho no gramado do parque e olhei para o céu azul com nuvens tão brancas e perfeitas; para as árvores repletas de flores de todas as cores, as crianças que corriam livres e alegres e senti a brisa quente e suave tocar meu corpo. “A vida é uma dádiva de Deus”.
    Naquele exato momento compreendi que independente de religião, do nome que damos a Ele, Deus está sempre conosco e que só depende de nós enxergá-Lo ou não.

  2. 4 comentários:

    1. Uma linda fábula, Cris!
      Sua história me lembrou minha infância, meu amigo imaginário, meu livro de fábulas de Esopo, com suas "morais da história".
      Beijo

    2. Vivi disse...

      Cris,

      Tenho percebido o quanto sua escrita tem evoluído ao longo das atividades desse laboratório em que a IL se transformou. Parabenizo seu esforço e dedicação.

      Quanto ao texto apresentado nessa rodada, existe um porém que diz respeito ao moralismo contido no final da história. Na minha opinião, deve-se deixar que o leitor se encarregue de tecer interpretações várias para à história dada. No caso do texto em particular, a idéia doutrinária reforça a intenção do moralismo.

      Cuidado também com as repetições de algumas palavras como "Ele", por exemplo.

      No mais, descobri que gosto muito mais de seus textos quando você se permite ousar na narrativa seja explorando as vozes psicológicas para estimular o conflito ou elaborando encadeamentos criativos.

      Sei que oportunidades não faltarão para que você possa explorar todo seu potencial de escritora.;-)

      Beijos

    3. disse...

      Cris!

      O seu texto nessa rodada me soou como um depoimento, uma reflexão acerca da onipresença de Deus.
      Tenho reservas quanto a textos que deixam uma lição de moral. Penso que cabe ao leitor fazer a sua própria leitura. Inclusive, já salientei isso antes em outros textos já publicados aqui na IL.
      Sei o quanto é criativa e me agrada quando você permite que essa vertente aflore em suas produções.
      Bjs...Rê

    4. Anônimo disse...

      Cris,
      Belo texto. Me lembrou também minha infância, meus dias ao lado Dele.
      Bjos, e parabéns!
      Ly