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  1. Rumo ao Sol

    27/01/2009

    Abriu a porta de casa disposta a sair por aí sem direção alguma. O dia não começara bem para ela. Havia discutido com o namorado, e naquele momento, queria fugir de tudo. Se possível, de si mesma.
    Foi ao encontro de sua bike dourada.
    Um sol da manhã alegre com seus raios fulgurantes conferiam à magrela uma cor diferente do normal, de ouro.
    Achou estranho, mas não compreendera o sinal. Tão desesperada estava por sair dali que não se atentou para a cena sui generis.
    Sentou no gasto selim e rememorou o primeiro dia em que viu a magrela. Paixão a primeira vista.
    Sorriu. Percorreu com as mãos a sua bike. Seus olhos brilhavam. Sentia-se plena, realizada.
    Se feliz estava, a magrela servia para mantê-la sempre alerta. Suas pedaladas velozes em ritmo frenético sinalizavam que as coisas iam bem.
    Se estava triste, a magrela cedia ao seu desânimo, seu esmorecimento. Mas, mesmo assim estava ali, presente, acompanhado-a e conduzindo-a em todos os cantos e recantos do mundo, da alma.
    Como agora. Queria fugir.
    E assim, saíram sem destino certo.
    Podia ver o mundo passar por ela em sua bike dourada. Os cabelos insistiam em sair do capacete de proteção.
    Sentir o toque do vento em seu rosto, a desmanchar-lhe os cachos negros era um prazer inigualável a ponto de sorrir, sem perceber, tamanha a felicidade e sensação de liberdade que tomava conta de si.
    Naquele momento, andava de forma relativamente lenta. Via o mundo passar. Com olhos de curiosidade observava as cores, os sons, os cheiros, as gentes. Deixava para trás as alegrias e tristezas para simplesmente se dedicar àquele momento.
    Livre de pudores, falsas alegrias, descontentamentos. Sentada no selim de sua bike dourada, segurou com força o guidom.
    Tinha um sonho: ir ao encontro do sol e se misturar àquelas variantes amarelas e alaranjadas de cores.
    Quando de repente, uma forte claridade tomou conta de tudo.
    Parecia que voava com sua bike dourada rumo ao sol.
    Já não se lembrava de mais nada.
    Apenas de minutos antes ter visto a luz amarela do sinal de trânsito que pedia ATENÇÃO.
    Já não era preciso. Pedalava. Pedalava, sem esforço, em direção ao sol.
    Se transformaria em mais um número da estatística publicada no jornal.
    Mas, o sol...ah, o sol é lindo
    Como sua bike dourada.

    Por Rê LiMa

  2. 6 comentários:

    1. Robson Ribeiro disse...

      Certas vezes é preciso ter cuidado com os nossos desejos.

      Bom texto. Beijos!

    2. Bom texto mesmo...
      Parabéns

    3. Vivi disse...

      Muito legal o olhar. E idéia do acidente não pesa. E tudo acontece como uma pedalada natural. Gostei também da noção implícita de que é a bicicleta é a extensão do corpo do ciclista. Gente, em três textos a relação com a bicicleta deu em morte. hihihi ;p

    4. Anônimo disse...

      Olá, peço que, se possível, divulgue o site do poeta Ulisses Tavares (www.ulissestavares.com.br) em seu blog.
      Mandando um email para nós você concorre a um livro por semana do escritor!
      Desde já agradeço a gentileza.

      Abraços!

    5. mais um q se espatifou. Ciclismo é perigoso mesmo ehehehe
      no final achei legal como ela nao estava nem aí pra morte.

    6. Cris disse...

      Rê,
      Senti o mesmo que o Rodrigo e a Vivi. Ela estava se sentindo tão bem, que a morte nada significou, apesar do acidente o texto ficou muito delicado.
      Belíssimo...

      Parabéns!!!

      Bjs