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  1. Por: Cris Costa

    Ainda me lembro do dia em que ganhei meu primeiro celular...Uau!!!

    Lindo! Robusto! Com aproximadamente 15 centímetros de comprimento, antena que esticava quase um metro e realmente ela era necessária, só tinha uma opção de toque, pesava quase um quilo, mas era o máximo em tecnologia.

    Na verdade, quando meus pais me entregaram o celular, alegando que eu precisava dele para facilitar o contato com eles, visto que estudava em outra cidade; naquele instante já o associei a algo mais importante. Pedro...Ah! Pedro!.

    Pedro era meu namorado, meu primeiro AMOR... Ele estudava em outra cidade, logo, podíamos conversar durante a semana, sem depender dos terríveis orelhões e na hora que quiséssemos. E confesso que me empolguei na época. Como era divertido! Falar com quem quisesse de qualquer lugar.

    Até que um dia meus pais convocaram uma reunião e apresentaram a conta mensal de sua utilização. Tinha esbanjado um pouco além do necessário e, portanto as conversas com Pedro se tornaram mais rápidas quando eu ligava. Naquele tempo a cobrança era uma fortuna.

    Uma bela tarde de sol, fui com a mãe de Pedro visitá-lo na república onde morava e ao chegarmos de surpresa encontramos uma menina na casa. Simpática, alegre demais, com uma mecha amarela reluzente nos cabelos, na parte que seria a franja.

    Quem me conhece sabe muito bem que dificilmente não me simpatizo com as pessoas. Não gostei dela imediatamente. Ela me mediu dos pés a cabeça e disse: “Você que é a famosa Mariana?”. Dei um meio sorriso e confirmei com a cabeça. Mas no fundo tive vontade de responder: “Sim! Sou a famosa Mariana e você é o cruzamento da bruxa Morgana com a Elvira, A Rainha das Trevas?”. Meu sangue fervia, se naquela época existisse chip, ele teria queimado. Isso não era bom sinal...e tenham certeza que não era necessário antena para captar que havia algo estranho ali.

    Ok! Eles moravam em cinco rapazes na república, não podia acusar o Pedro de nada, e nem o fiz. Passadas algumas semanas, Pedro comprou um novo celular, moderno, menor e mais potente. Engraçado que apesar de tudo o que dizia o manual de instruções, tornou-se mais difícil falar com ele. Sempre com sinal ruim, chiado, etc... As conversas mais rápidas. Às vezes achava que o meu celular me odiava...ficava sem sinal, a bateria terminava quando mais precisava, tocava quando não devia.

    Como era época de provas, Pedro me ligou avisando que não viria no final de semana, pois teria que estudar muito para não ficar de exame. A cidade onde ele morava ficava à uma hora de distância de nossa cidade natal, e, ele acreditava que iria estudar mais ficando na república do que em seu doce lar. Há! Ha! Ha! ... A quem ele tentava enganar. "AH!!!! Tá!!! Eu nasci ontem, acredito em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa".

    No sábado à noite liguei para o celular dele e nada. Confesso que encarnei a verdadeira “pentelha” e fiquei ligando a cada hora. Tudo bem que meus pais iriam cortar minha cabeça quando a conta chegasse, mas valeria a pena o sofrimento, preferia a cabeça cortada a ser enganada.

    No domingo na hora do almoço ele me ligou, pedindo mil desculpas que tinha ido até a faculdade em um grupo de estudo e tinha chegado tarde e assim não retornou a ligação para casa porque não queria assustar meus pais. “Hello!!!! Eu também tenho celular, que ligasse nele!...”.

    E encurtando a história, não é que depois de umas duas semanas, Pedro ligou no meu celular, triste, gaguejando, bem diferente do que era. “O que foi Pedro? Quer terminar o namoro?”. Perguntei direto, não sou muito de cerimônia. “Mari, eu te amo, mas estou tão ocupado na faculdade, com tanta coisa na cabeça...eu não quero terminar o namoro, quero somente dar um tempo...”. Ele falava e eu pensava: “muita coisa na cabeça, não é muita coisa...ela é baixinha com uma mecha ridícula no cabelo”.

    Quem dá tempo é relógio! Não acredito nesse negócio de dar um tempo na relação...e como a bateria do celular, o nosso namoro acabou, mesmo contra a vontade dele.

    E não é que esta vida evolui tanto quanto os aparelhos celulares. Um ano e meio depois, eis que Pedro liga em casa e minha inocente mãe informa o número do meu novo telefone. E ele me ligou. Eu o desprezei. Ele foi à minha casa. “Eu te amo”, ele disse. “Quero você de volta!”.

    Eu tinha acabado de iniciar um novo relacionamento e estava completamente satisfeita. O que não posso dizer quanto a minha operadora. E foi isso que disse para ele. Como cidade pequena é uma “desgraça”, todo mundo conhece todo mundo, Pedro descobriu quem era e foi procurar pelo meu novo amor. Estava indo para a faculdade, quando Beto me ligou e contou o ocorrido. Tentem imaginar minha situação. Na época foi constrangedor, hoje é motivo de piada!!!

    Passei a viver o famoso jogo do gato e rato. Onde ia, lá estava Pedro. Flores chegavam aos montes. Ligações, mais ligações no meu celular que não eram mais atendidas. O ápice foi quando Pedro encontrou com Beto no clube e sem qualquer maior explicação declarou guerra: “Ela vai ser minha de novo! Você não tem a menor chance!”.

    Por ironia do destino, naquele dia levei meu “tijorola” para ser utilizado como comparativo em uma aula de evolução humana. Ao chegar em minha casa, lá estava o chato, insuportável e mesquinho Pedro. Tentei ser educada e explicar que estava apaixonada pelo Beto, que o máximo que poderíamos ser era amigos. E do nada, Pedro me agarrou, tentando me beijar à força.

    Juro que não foi premeditado, foi legítima defesa...tasquei o “tijorola” na cabeça do infeliz. Não sei dizer qual a intensidade de força, mas ele me empurrou e levou a mão à cabeça, com expressão de dor. “Acabou tudo entre nós”, ele falou. “Não!!! Acabou a quase dois anos”, foi o que respondi.

    Meio cambaleando Pedro entrou em seu carro e desapareceu. Felizmente, nunca mais o vi. Soube que levou dois pontos na cabeça, mas ele não explicou para nenhum de nossos amigos o que tinha acontecido, nem sei se fui a causadora do ferimento.

    Hoje na era dos celulares que falam, cantam, dançam entre outras opções, meu querido “tijorola” parece um dinossauro. Ainda está guardado no armário de relíquias do meu pai. Ele pesa o dobro e também é maior que o telefone sem fio de casa. Imagine perto do meu atual celular...Ele é um monstro!

    Enfim, segundo teorias, o aparelho celular surgiu no intuito de facilitar ainda mais as nossas vidas, ou, para nos rastrear vinte e quatro horas e nos escravizar por espontânea vontade.

    Mas, no meu caso, meu primeiro celular acabou tendo um papel de suma importância em minha vida. Funcionou no momento que realmente precisei, mesmo que não tenha sido com uma ligação, mas como uma arma de defesa.

    Por isso, afirmo que realmente o primeiro nunca se esquece, independente do que seja.



    (Elvira, a Rainha das Trevas: Elvira, Mistress of the Dark - Filme Comédia, New World Pictures, 1988)
    ("Tijorola" - forma como foram apelidados os primeiros modelos lançados nos Brasil)

  2. 4 comentários:

    1. Vivi disse...

      Tijorola eu nunca ouvi falar. Já ouvi um assemelhado Tijolão...rsrs

      Bem, Cris, você se sai bem com textos juvenis.Sua linguagem atinge esse público. Texto de fácil leitura, e o que é melhor, sem ser verborrágico.

      Bjs

    2. Lyani disse...

      Também já ouvi Tijolão, mas Tijorola é novo e cômico, gostei!!! rsrsrs

      O texto está ótimo, suas histórias sempre prendem a atenção!
      Gostei bastante! E realmente o primeiro, não importa o que, nunca se esquece :)

      bjinhosss

    3. Eu tinha um Tijonokia.
      eh eh eh
      O primeiro a gente não esquece mesmo.
      Bem bom de ler mesmo.
      Trouxe velhas lembranças.
      Beijos

    4. disse...

      Bacana o seu texto-depoimento, Cris...
      Depois do drama, é sempre bom dar boas risadas.
      Já vi celulares com muitas funções, mas aprendi que serve também para dar "tijoroladas" em namorados que saem da linha.
      Valeu, girl!
      Parabéns.

      Bjs...RÊ