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  1. Denunciando minha formação científica, não pude deixar de pensar, assim que me propus a elaborar sobre a mentira, na beleza da ilusão na natureza. A evolução produz intricadas tramas de sexo e traição, trapaças belíssimas. Há uma orquídea cuja flor é muito semelhante a uma mosca, da qual depende para sua polinização. A flor atrai a mosca macho ao emanar um odor semelhante ao da fêmea dessa espécie. A mosca, ludibriada, copula com a flor, e acaba por polinizá-la. Embora nem a flor nem a mosca tenham consciência da trama na qual se inserem, o ser humano, como observador, tem o privilégio de ver os resultados dos milhões de anos de um emaranhado repetitivo de reprodução, morte, sobrevivência, competição, mudança e cooperação, que produz mentiras invejadas pelos mais sensíveis poetas.  A mentira, sem sua conotação moral, sem suas mesquinharias individuais, é a arte. A mentira nos constitui, constitui os limites dos nossos sentidos. Somos constantemente ludibriados por cores e linhas, pelas limitações do que somos afeitos a ver, a ouvir, a crer. A mentira amplia os limites do visível. Para nos redimir do uso pequeno que se tem feito da mentira, que a usemos como a natureza a faz, de forma natural, inconsequente, impensada, paciente e incansável. Façamos poesia!




    Seguem palavras de outro mentiroso, que me parecem melhor do que as minhas...  

    A Incapacidade de ser verdadeiro – Carlos Drummond de Andrade
    Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.

    A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.

    Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
    - Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

  2. 2 comentários:

    1. Debs disse...

      Seja bem-vinda Maissa!!

      Adorei a sua introdução do tema, o lado poético da mentira! Adorei a comparação com a orquídea que engana o inseto para poder continuar seu ciclo de vida.

      E dizem que os escritores também são grandes mentirosos, não é mesmo? =)

      Amei a citação, Carlos Drummond é bom demais! =)))

    2. Maissa disse...

      Valeu Debs. Sempre que termino o texto acho que estou dizendo coisas muito óbvias, que alguém já disse, que todo mundo já deve ter pensando. Mas mesmo que seja isso, saber que agradou já me deixa feliz ;) Sou bem resistente às críticas, então, podem descer a lenha também hehehe