O Desfile
Por Fernanda Soares
Um imenso clarão inundava as retinas até pouco a pouco se ver em total escuridão
Ao longe se ouvia um bumbo agonizante...tum...tum...tum
O som de choro se misturava a burburinhos e bocejos. Como num funesto e melodioso desfile carnavalesco.
A comissão de frente formada de glóbulos vermelhos e brancos, se degladiavam até sumirem em caudaloso rio sanguíneo.
Os rins iniciavam junto ao fígado e o pâncreas uma vingativa parada. Todos magistralmente sincronizados como verdadeiros carros alegóricos.
Junto a eles, montavam guarda os intestinos em complexa dança para impedir uma maior movimentação
Todos a espera de notícias das regiões superiores
A vesícula gritava e gritava assustada sem saber a quem temer
O estômago como num campo de guerra devastava-se entre ácidos, sucos e dejetos
Estranhos espasmos calorentos e febris dominavam em todas as regiões
Nada se sabia e era assustador!
Os neuro-transmissores não haviam conseguido enviar as informações aos outros pelotões e nem aos chefes de alas
As células não estavam se importando com a harmonia e nem a rainha conseguia fazer sua parte, tentar conduzir a bateria a um desfile fabuloso
Reinava o mais perfeito caos entre membranas, tecidos e ossos que gingavam frouxos como passistas em dias de desfile
O coração havia perdido seu compasso e as artérias se entupiam chorosas, lamentando o herói morto
O cérebro sofria enormes transtornos de consciência, mais continuava a trabalhar com a mesma leveza de um mestre-sala até que não aja mais necessidade e todos se reúnam pra posarem pras fotos da autópsia
Já neste momento, livres dos efeitos da pouca quantidade do formol, os milhões de vermes destacados começam sua limpeza pra darem lugar a novos desfiles
Nas dimensões extrafísicas aparelhos iam sendo desligados a medida que o laço fluídico se desprende e a essência vai se afastando do invólucro terreno no término de sua missão
Um distinto balé vai fazendo corpo no astral. Milhões de luzes se aglutinam junto aquele casulo terreno já extinto, saudando a pura essência em sua nova morada...são como a calorosa platéia que aplaude o ser que completou sua missão no imenso sambódromo da vida.
As estrelas cintilantes recebem aquele que retorna para um dia voltar de novo e completar a dança cósmica iniciada desde o início dos tempos
Por Fernanda Soares
Um imenso clarão inundava as retinas até pouco a pouco se ver em total escuridão
Ao longe se ouvia um bumbo agonizante...tum...tum...tum
O som de choro se misturava a burburinhos e bocejos. Como num funesto e melodioso desfile carnavalesco.
A comissão de frente formada de glóbulos vermelhos e brancos, se degladiavam até sumirem em caudaloso rio sanguíneo.
Os rins iniciavam junto ao fígado e o pâncreas uma vingativa parada. Todos magistralmente sincronizados como verdadeiros carros alegóricos.
Junto a eles, montavam guarda os intestinos em complexa dança para impedir uma maior movimentação
Todos a espera de notícias das regiões superiores
A vesícula gritava e gritava assustada sem saber a quem temer
O estômago como num campo de guerra devastava-se entre ácidos, sucos e dejetos
Estranhos espasmos calorentos e febris dominavam em todas as regiões
Nada se sabia e era assustador!
Os neuro-transmissores não haviam conseguido enviar as informações aos outros pelotões e nem aos chefes de alas
As células não estavam se importando com a harmonia e nem a rainha conseguia fazer sua parte, tentar conduzir a bateria a um desfile fabuloso
Reinava o mais perfeito caos entre membranas, tecidos e ossos que gingavam frouxos como passistas em dias de desfile
O coração havia perdido seu compasso e as artérias se entupiam chorosas, lamentando o herói morto
O cérebro sofria enormes transtornos de consciência, mais continuava a trabalhar com a mesma leveza de um mestre-sala até que não aja mais necessidade e todos se reúnam pra posarem pras fotos da autópsia
Já neste momento, livres dos efeitos da pouca quantidade do formol, os milhões de vermes destacados começam sua limpeza pra darem lugar a novos desfiles
Nas dimensões extrafísicas aparelhos iam sendo desligados a medida que o laço fluídico se desprende e a essência vai se afastando do invólucro terreno no término de sua missão
Um distinto balé vai fazendo corpo no astral. Milhões de luzes se aglutinam junto aquele casulo terreno já extinto, saudando a pura essência em sua nova morada...são como a calorosa platéia que aplaude o ser que completou sua missão no imenso sambódromo da vida.
As estrelas cintilantes recebem aquele que retorna para um dia voltar de novo e completar a dança cósmica iniciada desde o início dos tempos
Fê,
Adorei a descrição da marcha cósmica simbolizando o momento derradeiro e inexorável da vida.
Você conseguiu retratá-lo de forma poética. Bem pensado, o uso da alegoria do carnaval no sentido de suspender o uso da carne. O texto ficou muito bonito.
Beijos
Fê, Parabéns!!!. Achei incrível a descrição elaborada, principalmente usando comparação com carnaval e balé. E pensar que você alegou estar com dificuldades...
Lindo!!
Bjs
Fê + Dificuldades = Desafios superados.
Curti. Talvez não passemos mesmo de física e química. E, mesmo deixando de ter sentido, nem por isso deixamos de ter poesia.
Fernanda,
Sutileza, sensibilidade, verdade, ciência, vida e morte.
Parabéns pela criativiade e pelo sua dedicação que é visível em seu texto. Continue assim.
Abraços,
Rê