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  1. O Presente

    26/07/2008

    O Presente
    por Fernanda Soares

    Gioconda era moça triste. Vivia sempre em casa resmungando a desgraça de sua vida.
    Era sempre a mesma história e nada daquilo mudar. Na cidade todos tinham conhecimento do causo da moça rechonchuda que conheceu por carta um homem, montou enxoval pro casório e acabou sem grinalda. Não é que o moço, justo nas vias do enlace, foi se encantar por Anita, sua irmã. A irmã magricela e mais nova de Gioconda, embora muito tímida, até que era engraçadinha e ficou muito feliz com o bonitão do noivo da irmã. E lá se foi ela casar muito satisfeita. Isso foi uma punhalada pra Gioconda. Foi assim, que perdeu o noivo, a festa do casamento e até o enxoval. Pobre Gioconda!
    O tempo foi passando e novos acontecimentos na cidade surgindo. Na vida de Gioconda não parecia sair da mesmice. Isso até o dia que chegou uma encomenda pra moça, em nome de sua parenta e madrinha, vinda da capital. Dizem, e não conto pra ninguém quem me contou, que ao abrir a caixa, Gioconda estranhou o conteúdo. Não se sabe o que estava lá dentro ou o sentido do presente e da surpresa. Mais o certo, é que por essas paragens nunca se viu mudança mais drástica.
    Se antes, Gioconda era a carola que não saía de casa e vivia a reclamar de sua situação, em pouco tempo algo a transformou totalmente. Com o passar dos dias, começou-se a sentir um sedutor perfume que zombeteava dos curiosos a cada vez que a gordota descia a rua principal. E pra espanto de toda uma população, a moça começou a marcar ponto no coreto onde todas as mocinhas iam se mostrar, de vestido novo e batom vermelho. Não satisfeita, compareceu a todos os bailes oferecidos pelas melhores famílias da região dançando com todos os rapazes disponíveis e foi assim que em menos de dois meses, o furacão da cidade recebeu de um dos maiores fazendeiros da região, a benção do pedido. Mais pra frente, deu-se o enlace com toda pompa e circunstância.
    Por muito tempo não se soube como, quando e porque um singelo presente pôde fazer tamanha balbúrdia. Que ela não era mais a mesma pessoa...ahhh isso não era não! E assino e afirmo com carimbo e firma reconhecida em cartório, que presenciei a felicidade da mocinha ao lado de seu fazendeiro e de mais tanta ajuda que ela deu pra cidade e até pra esse contador que vos fala. Tenho certeza que com mais tantos outros, ela e seu amado repartiram suas venturas.
    Muitos anos depois, que fui saber o que continha naquela caixa. E como não consigo segurar os dedos e muito menos a língua, passo adiante esse fato. Só que se vierem tirar satisfações a cerca desta bisbilhotice, eu nego e ainda peço o perdão a Deus e a nosso Senhor Jesus Cristo que há de descer do reino dos céus um dia. Amém!
    Ao abrir o presente, a senhorita em questão e formosura, teve a primeira surpresa em ver um espelho antigo, que segundo ela estava na família pra mais um século. O mesmo tinha em sua moldura os seguintes dizeres: “Faça de você, um espelho que reflita a sua alma e transforme a sua vida em ações”...e onde já se viu um espelho conter isso? Segundo as explicações de comadre Gioconda, essa inscrição no espelho mais a própria imagem refletida a fez pensar em toda a sua vida e em sua infelicidade. O perfume que chamava-se “ Possibilidades” deu a ela o impulso da vontade de estar bonita e fazer algo por si mesma pra sair daquele ostracismo em que ela tinha se metido. A carta escrita por sua madrinha, contava a história de uma outra moça que também passara por dificuldades e como ela se saiu em seu drama.
    Isso fez Gioconda se encher de esperança. Passando a ter noção do que é o verdadeiro amor-próprio, sentimento esse de orgulho pessoal que nos leva a não querer desmerecer e muito menos deixá-lo escapar novamente. E isso ela não queria que acontecesse de novo. O principal nessa história toda, foi o tamanho poder que o presente gerou nela, fazendo-a adquirir coragem pra se jogar no mundo.
    E foi assim, que ela decidiu dar ênfase aos detalhes do presente e seguir adiante sem olhar pra trás. Porque a vida é muito curta e seria uma perda de tempo deixar de viver outros causos, porque as primeiras tentativas não deram certo.
    Hoje, Gioconda vive na mesma cidadezinha e sua casa está sempre cheia de música, jovens e um cheirinho bastante adocicado de felicidade.
    E você anda triste? Que tal deixar seu endereço? Quem sabe não está precisando receber um presente? Quem sabe esse presente não está aí já na sua caixa de correio? Vá dar uma olhada e se abra pro novo ou então se encha da mesma coragem de comadre Gioconda e vá se olhar no espelho. Será que está refletindo a imagem que você gostaria? Será que é essa imagem que você quer mostrar ao mundo? Eu até posso dar palpite, mais quem sabe mesmo é só você.
    Continuarei por aqui esperando pra contar pro meu povo sua história. Se não quiser tudo bem, eu vou contar do mesmo jeito. E não foi pra isso que Deus me fez? Não consigo fazer outra coisa!hahaha...mais aí já é outra história!
    Até mais, se assim tiver que ser!

  2. 5 comentários:

    1. Eu adorei o texto... até o momento em que você disse o que havia na caixa...
      Sabe, pensei que podia ter só o espelho e que a Gioconda visse nele apenas seu reflexo, e que isso a assustasse...
      Mas o toque do perfume Possibilidades eu adorei...
      Ah... tu esqueceu e escreveu um vc em lugar de você... risos
      Sua Gioconda me pareceu uma personagem bem consistente. Dava até prá criar um livro com "os causos da Gioconda".
      Parabéns

    2. Anônimo disse...

      hehhe...valeu pelas observações...hehehe...vou corrigir

    3. Cris disse...

      Fê, fiquei muito feliz com seu retorno. E vejo que voltou com força total...
      A-D-O-R-E-I o "causo". Seu texto está com uma narrativa leve e despreocupada, realmente, idêntico aqueles "causos" que se espalham pelo interior.
      A transformação da personagem também é contagiante, principalmente pelo fato de uma frase tão simples, abrir-lhe os olhos para a realidade-“Faça de você, um espelho que reflita a sua alma e transforme a sua vida em ações”.
      Lembrei do meu adorado avô que nos reunia no rancho para contar histórias maravilhosas. Oh!! doce infância!!!

      Parabéns!!

      Bjs

    4. Vivi disse...

      Gostei bastante da levada bem humorada do texto. Parece ter um tom fábula. Só retiraria a mensagem motivacional ao final, para valorizar o final concedida ao personagem principal e deixar que o leitor faça suas próprias conclusões. ;)
      Estava com saudades dos seus textos, Fernanda!

      Bjs

    5. disse...

      Olá Fernanda!
      Que bom contar contigo novamente. Espero que agora em definitivo, não é mesmo?rs..
      Bom, você conseguiu imprimir um toque de humor no texto bem bacana.
      Gostei bastante da forma como você trabalhou o tema.
      Concordo com a observação de Vivi, acho que o leitor é que deve fazer a sua interpretação acerca da história, não precisa entregar tudo "mastigadinho".
      No mais, seu texto de retorno mostra que você voltou animada.
      Bjs...RÊ