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  1. Regras do Sucesso

    02/09/2008

    Por: Cris Costa


    Sarah, trabalhava como secretária desde seus dezessete anos. Finalmente tinha alcançado as estrelas: estava trabalhando para o cirurgião plástico mais famoso da região, trabalhava para o Dr. Alfonso. Este nome significava sala de espera lotada, espera de mais de seis meses para a primeira consulta. No consultório, Sarah tinha contato com pessoas de todas as classes sociais, desde aquelas riquíssimas até aquelas que vendiam o almoço para comprar o jantar, e, no caso, para serem pacientes do Dr. Alfonso com certeza deveriam ter vendido no mínimo os almoços e jantares dos últimos três anos. Conheceu pessoas finas por natureza e as mais desagradáveis que sequer um dia imaginou que existissem.

    Dr. Alfonso Gamão, era jovem, porém, muito, muito rico (isto não significa que ele pagasse salário acima ao de mercado para sua secretária); era bonito (compensação pelas longas horas de trabalho para Sarah, um “colírio para os olhos”); era poderoso (vivia nas capas de revistas e programas de TV). Todas as secretárias do prédio sonhavam em trabalhar para o Dr. Alfonso, pois achavam que ele era o mais perfeito ser da face da Terra, ou seja, nunca dava broncas em Sarah e elas não acreditavam quando Sarah dizia alguma “calúnia” a respeito do cobiçadíssimo médico, porque pessoas perfeitas como ele não espirram, não vão ao banheiro, não arrotam...

    Ele era tão bonito, mas tão bonito que nem parecia real. Alfonso poderia se descrito como uma mistura de Matthew Farrell, Ramon Galverra, Zach Benedict, Jason Fielding, Irmãos Westmoreland e Ian Thornton (quem já leu Judith McNaught, entende o que isto significa).

    Mas como nem tudo é perfeito, Alfonso era casado com Vitória, uma super ex-modelo com longos e brilhantes cabelos loiros e olhos azuis, com dois metros só de pernas, que abandonou a carreira para assumir o posto de mulher de famoso e rico cirurgião.

    Denise, era uma nova paciente. Morena, 115 cm de quadril, resumindo no mínimo dez quilos acima do peso. Sarah desenvolveu um carinho especial por Denise, pois ela era sempre educada e calma, mesmo nos dias em que chegava para a consulta e tinha dez “barbies” na sua frente. Conversava muito com Sarah, pois ainda não tinha se convencido se era correto ou não fazer a cirurgia plástica, somente para agradar ao namorado.

    Passados algumas semanas, Vitória começou a ligar várias vezes ao dia para falar com Alfonso e quando este se negava a falar com ela, desatava a chorar no telefone com Sarah. Na última vez, contou para Sarah que tinha encontrado um pacote de preservativos na pasta de Alfonso e que tinha certeza de que alguma “vagabunda” estava saindo com seu marido e prometeu que ia descobrir “tuuuuuuudo”. De tanto Vitória atormentar Sarah para saber sobre as pacientes do marido, a secretária acabou confidenciando que havia uma paciente nova, muito gentil, que estava se consultando regularmente com o médico, pois estava fazendo a cirurgia somente para agradar o namorado. Mal sabia Sarah a besteira que tinha cometido.

    Numa quinta-feira ensolarada, eis que surge no consultório Vitória, elegantemente trajada, penteada e maquiada, como dizem os garotos – de parar o trânsito. Cumprimentou os pacientes com um leve aceno com a cabeça e ficou em pé parada em frente de Denise. Estranhando o comportamento da beldade loira que a encarava, Denise deixou a revista de lado e com toda a calma do mundo, perguntou:

    - Oi, posso ajudá-la???
    - Claro que pode me ajudar – disse Vitória com pouco caso.
    - O que você quer, então??? – questionou Denise, inocentemente.
    - O que eu quero sua sem vergonha??? O que eu quero é que você vá procurar um marido para você e deixe o meu em paz!!! – vociferou Vitória

    Neste momento, nem preciso lhe dizer que todos, mas todos que aguardavam na sala de espera deixaram as revistas cair sob o colo, a “barbie” que enchia um copo com água nem percebeu quando este transbordou; a mulher que fazia um delicado crochê esqueceu do ponto e sem querer passou a fazer somente "correntinha". A impressão que dava é que ninguém mais respirava. Todos ficaram boquiabertos e atentos para o que estava acontecendo. Era um show inusitado na sala de espera.

    - Me perdoe! Você está me confundindo com outra pessoa, deve ser um mal entendido. – disse Denise
    - Não, não, não!...é com você mesmo que quero falar sua “vagabunda”! – respondeu Vitória
    - Eu sinceramente não sei do que você está falando, mas “vagabunda” é a senhora sua mãe! – respondeu calmamente Denise.
    - Como ousa falar assim comigo sua petulante, baixinha e gorda!!! – Vitória falou descontrolada
    - Olha aqui sua oxigenada, anoréxica! Você é “biruta”??– exclamou Denise – Se o seu marido prefere eu a você, já entendo o porque! Deve ser porque ele quer carne como prato principal e não ficar só chupando osso!
    - Sua...Sua...Sua...ridícula, mocréia, esnobe, pecadora, sem vergonha, desqualificada, como ousa falar comigo assim...você não tem classe alguma, vou acabar com você!!! – gritou Vitória cheia de razão.

    Nesse momento Vitória voou sobre Denise e como em toda briga de mulher, se atracaram pelos cabelos. Passaram a rolar pelo chão, aos tapas, cravando unhas e dando safanões. Quando Denise tentou se levantar, Vitória a agarrou pelo sutiã e soltou, um golpe extremamente baixo. Sarah tentava infrutiferamente apartar as duas mulheres, mas a coisa estava realmente feia. As pessoas presentes na sala de espera, riam de toda cena e nada faziam para separar as duas mulheres.

    Estavam adorando o show, e alguns até começaram a fazer apostas para adivinhar qual seria a vencedora. A gritaria foi tanta, que o Dr. Alfonso deixou a consulta e se dirigiu a sala de espera.

    - Mas o que é que está acontecendo aqui? – exclamou Alfonso, desesperado ao observar que uma multidão acompanhava aquela baixaria toda, lembrava até uma rinha.
    - Acabou Alfonso! Descobri tudo seu mau caráter. Quero o divórcio e vou arrancar tudo de você! Ouviu bem, vou tirar tudo de você, tenho provas. – disse Vitória aos berros toda descabelada, arranhada e com suas finas roupas em farrapos.
    - Pelo amor de Deus!! Antes do divórcio, vem a separação... mas do que é que você está falando, Vitória??? – perguntou o médico – descobriu o que?
    - Desta sem vergonha desqualificada!!! – respondeu Vitória apontando para Denise de forma depreciativa
    - O que tem Denise!? Ela é uma paciente. Você tem noção do que acaba de fazer. Olha o seu estado Vitória, tudo isto só pode ser loucura. Não acredito que você fez isso tudo no meu consultório – exclamou Alfonso.
    - Dr. Alfonso, o senhor é casado com essa louca? – perguntou Denise – Não acredito...O senhor é um homem tão nobre e educado, como pode ter se casado com uma mulher tão baixa?? Doutor, ela chegou me acusando e atacando fisicamente. Admiro muito o Senhor, mas saiba que vou procurar meus direitos, vou processar sua mulher por toda essa humilhação.
    - E eu vou processar você Alfonso, por bigamia e você sua vagabunda, vou processar por “vagabundagem”, sua “ladrona de marido”, sem caráter! – disse Vitória sem ter a mínima idéia do que falava, começando a chorar.
    - Vitória, vamos para a minha sala, imediatamente!! – falou Alfonso, visivelmente envergonhado – Por gentileza, Denise, nos acompanhe, por favor.

    Enquanto o show se desenrolava, Sarah rapidamente ligou para o advogado do Dr. Alfonso. Depois da chegada do Dr. Paolo, Alfonso, Denise e Vitória foram para o interior do consultório e nada mais era ouvido. Lentamente a sala de espera foi se esvaziando, as consultas remarcadas, o que representava mais um fim de dia para Sarah, um dia totalmente incomum.

    Como fazia todo santo dia, Sarah esperou que todos saíssem e finalmente quando Alfonso ficou só, foi até a sala dele para entregar a correspondência e os recados antes de ir embora. Ao entrar na sala, Sarah observou que Dr. Alfonso estava com a cabeça apoiada no tampo de vidro da mesa, parecendo desolado. Foi caminhando devagar com medo de interromper seus pensamentos.

    - Dr. Alfonso, com licença, trouxe sua correspondência e recados. Se o senhor não precisar mais de mim, já vou embora. – falou Sarah, com um nó na garganta por constatar que o seu patrão estava visivelmente triste.
    - Sua “diabinha” – disse Alfonso sorrindo de lado e erguendo uma sobrancelha, com cara de malandro – Nunca imaginei que você fosse capaz de fazer isso!
    - Nunca duvide de uma mulher, querido. Eu lhe perguntei o que você desejava, o que seria uma loucura. Te alertei que desejos se realizam, mas, você duvidou... – respondeu Sarah, movimentando-se sensualmente pela sala.
    - Foi perfeito!! Ainda não acredito no que vi – falou Alfonso indo ao encontro de Sarah – Você é doida, e ao mesmo tempo incrível, garota!
    - E agora o que vai acontecer?? Fiquei com pena da Denise, eu não deveria tê-la envolvido nisso. Enfim, já está feito.
    - Sarah! Não se preocupe, Denise ficou muito feliz com o acordo que o Paolo propôs para que ela não fizesse escândalo. Vou fazer três cirurgias de graça à escolha dela e, ainda ela vai receber uma boa indenização da Vitória – Alfonso falou orgulhoso.
    - E a Vitória? – perguntou Sarah
    - Vai enfiar o rabinho entre as pernas e prometeu sair de casa ainda hoje. Vamos nos separar, outro ótimo acordo. Finalmente estou livre dela! – falou Alfonso sorrindo e estendendo a mão para Sarah.
    - Alfie, querido! Eu te disse que tinha regras para o sucesso e te avisei para nunca menosprezar o poder de ninguém, as pessoas possuem capacidades que às vezes até elas desconhecem. E agora, onde vamos comemorar??? – disse Sarah rindo e aceitando a mão que lhe era estendida - Na minha casa ou na sua??
    - Onde você quiser, bruxinha!!! Onde você quiser...

  2. 6 comentários:

    1. Anônimo disse...

      Nossa... que reviravolta final!
      Eu não esperava por isso e você escreveu muito bem, mais uma vez!
      É até clichê falar isso...
      Parabéns Cris!
      Bjos,
      Ly

    2. Robson Ribeiro disse...

      Eis que o sucesso de uns
      Anuncia o degresso de outros.
      Com vigor a vida segue
      Entre vítimas e vilões.

      //

      Cris, parabéns pelo texto.
      Belo desfecho!
      Um abraço!

    3. Vivi disse...

      Que surpresa boa esse texto, Cris!
      Porque será que lembrei do filme Alfie com Jude Law?

      Mathew Farrel & cia é golpe baixo...rsrs

      No mais, me prendi a história mal podendo esperar pelo desfecho...como sempre, você não perde a capacidade de me fazer rir...

      Ponto pra você. Parabéns!!!

      Beijos

    4. Cris
      Que reviravolta mesmo... adoro histórias assim.
      Seu texto estava na medida!
      Eu adoro ler boas histórias compridas.
      Parabéns

    5. Anônimo disse...

      Espetacular Chris! Achei seu texto original e muito envolvente. Parabéns!

    6. disse...

      Cris,

      Quanta criatividade!rs...A história é hilária. Só você mesmo!!
      Parabens pelo texto.
      Bjs...Rê