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  1. Por: Cris Costa

    Quando sentiu o golpe e o sangue escorrer, ela somente teve tempo de observar os últimos raios do sol.
    A brisa fria, as folhas ao chão, a luz solar reduzida anunciavam que os dias ficariam mais curtos.
    Era sinal de dias longos, fartos, contudo, solitários.
    Não sabia mais identificar e nem tinha ânimo para contemplar a se ainda era dia ou noite.
    A alta temperatura explorava seu corpo, aumentava as dores e os delírios.
    Sua pele parecia enrugada e seus cabelos começaram a se soltar.
    A mordida, a febre e a sonolência. Sintomas que anunciavam a nova era.
    Era o fim dos dias quentes e alegres.
    Outono, a linda estação que sucede o verão e antecede o inverno, era sua estação favorita.
    Uma dor agonizante. A última respiração. O fim.
    Quando abriu os olhos novamente, sentiu o delicioso cheiro de sangue e muita fome.
    Não se recordava da família e dos antigos vizinhos. Sentia somente fome.
    O som das folhas ao chão misturavam-se aos gritos. Aquela deliciosa brisa eriçava os fios de cabelos da nuca daqueles que ainda estavam vivos e espalhava a deliciosa fragrância de vida àqueles como ela.
    Ela avistou uma pessoa correndo e empreendeu em sua direção. Fome. Fome. A pessoa sequer conseguiu gritar por ajuda. Ela mordeu-lhe a jugular e dilacerou seu corpo. Fome. Ainda estava faminta.
    Era verão quando o vírus se espalhou.
    Avassalador. Implacável. Bastava um único contato com o sangue infectado. Muitos, muitos zumbis perambulavam pelas ruas.
    No início do outono a cidade estava vazia.
    Era o anúncio de um longo e tenebroso inverno.






  2. 4 comentários:

    1. Anônimo disse...

      Cris,
      Bom ler você de novo!
      E que leitura! Você me surpreendeu, a princípio achei que fossem vampiros, mas eram zumbis! E adorei o tom sutil que emprestou às suas palavras e deixou tudo muito agradável de ler, embora seja um tema denso e tenebroso!
      Muito bom!
      Bjos

    2. Grande Cris, de volta aos seus textos macabros... :-)
      Adorei, Cris.
      Também achei que eram vampiros e me surpreendi com os zumbis
      Parabéns

    3. Vivi disse...

      Oi, Cris, aplausos para a saída criativa. O que acho mais interessante ainda é que traduz o outono dos tempos em que vivemos, em que perigamos a cair em um inverno sem fim. Existencialmente, e essencialmente. Pelo que vejo, pelo que ouço, as pessoas estão começando a destestar o nascer do dia, da luz, do sol preferindo o ambiente da penumbra.Variando entre quase-luz e quase-trevas, consciências zumbificadas vão se multiplicando. O seu texto, muito perspicaz, é metafóra desses tempos, sim.

      Beijocas

    4. disse...

      Fala Cris!
      Gostei bastante da forma como foi narrada a história. Gera expectativa em quem lê. E isso é muito bom.
      Excelente abordagem do tema. Parabéns!
      Besos, Rê